segunda-feira, 1 de novembro de 2010

My 20 Favorite Movies: #14. El Laberinto del Fauno [Pan's Labyrinth] (2006, Del Toro)

 

“A long time ago, in the underground realm, where there are no lies or pain, there lived a Princess who dreamed of the human world. She dreamed of blue skies, soft breeze, and sunshine. One day, eluding her keepers, the Princess escaped. Once outside, the brightness blinded her and erased every trace of the past from her memory. She forgot who she was and where she came from. Her body suffered cold, sickness, and pain. Eventually, she died. However, her father, the King, always knew that the Princess' soul would return, perhaps in another body, in another place, at another time. And he would wait for her, until he drew his last breath, until the world stopped turning...”

Espanha, 1944. A Guerra civil espanhola havia terminado mas ainda se vivia um ambiente hostil, onde grupos de guerrilheiros lutavam contra o regime fascista que os tentava sufocar. Vemos uma rapariga moribunda, com uma melodia suave a servir de pano de fundo musical. O monólogo acima descrito marca o início do filme do realizador mexicano Guillermo del Toro – El Laberinto del Fauno.


Belo e violento. Mágico, triste e trágico. Fantástico. Estes são apenas alguns adjectivos podem caracterizar a obra de 2006 de Del Toro, onde a fantasia e a realidade se misturam e se entrelaçam para criarem um filme extraordinário. O binómio inocência/brutalidade é aqui muito bem explorado através da grande caracterização das suas personagens: Ofelia (Ivana Baquero) é verdadeiramente fascinada por contos de fadas, devorando todos os livros que encontra sobre isso. Dessa forma, e como maneira de escapar aos horrores que assolam, na altura, o dia-a-dia espanhol, Ofelia encontra nos contos de fadas um verdadeiro refúgio, vivendo-os, tornando-se a própria protagonista dos mesmos. Contudo, quando se muda para a casa do seu padrasto, Capitán Vidal (Sergi López), a sua vida passaria a ser ainda mais turbulenta e penosa. Vidal é um totalitário, sádico e agressivo comandante de exército que trava diariamente uma luta contra guerrilheiros em prol de uma implementação em pleno de um regime fascista em Espanha. A natureza vil de Vidal é um excelente contraste à inocência que Ofelia representa.


São dois os factores técnicos que melhor conseguem imbutir no filme a distinção entre a realidade e a fantasia, destacando-a, e que sustentam a visão do realizador: A fotografia e a banda sonora. Em primeiro lugar temos uma fotografia sublime, que se adequa perfeitamente às situações apresentadas no filme – A realidade é fortemente caracterizada por uma fotografia mais crua, mais escura, e onde a palete de cores utilizada é dominada por tons frios representando a crueldade e o desconforto que Ofelia vai sentindo ao longo do filme. Por outro lado, nas cenas onde a fantasia impera já são utilizadas cores mais quentes que reflectem o conforto e a segurança que Ofelia procura. Em segundo lugar a banda sonora exude o misticismo e o mistério que está por detrás do desenrolar da acção. A intensidade das peças vai escalando à medida que o filme se dirige para o seu climax, e culmina numa suavidade, quase pessimista e derrotista.

Ainda de louvar são os aspectos referentes à maquilhagem e à direcção artística. O nível de detalhe da caracterização do próprio fauno, bem como do pale man, é de uma exímia minuciosidade. Um verdadeiro testamento à genialidade dos artistas por detrás da maquilhagem do filme. Os cenários são também belissimamente talhados, enaltecendo a fascinação pelo fantástico e pelo imaginário.



Quanto às prestações do elenco: sensacionais. Sergi López surge em grande forma encarnando o papel de um dos vilões mais temidos e ameaçadores, sem qualquer traço de humanidade e empatia, dos últimos anos; Maribel Verdú, enquanto empregada (e mais não digo para não spoilar o filme) do capitão confere a força e a garra à sua personagem, o que aliado ao forte carácter maternal e sentimental da mesma traduz-se numa caracterização bastante tridimensional. Ivana Baquero, muito provavelmente a grande revelação do filme, é quem acaba por ter que carregar com o peso do filme todo aos ombros, e sucede genialmente nessa árdua tarefa.

Se é o meu filme de fantasia preferido? Digo seguramente que sim. Vejam-no!

Fun Trivia: O filme recebeu uma ovação de 22 minutos, no Festival de Cannes.


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“A long time ago, in the underground realm, where there are no lies or pain, there lived a Princess who dreamed of the human world. She dreamed of blue skies, soft breeze, and sunshine. One day, eluding her keepers, the Princess escaped. Once outside, the brightness blinded her and erased every trace of the past from her memory. She forgot who she was and where she came from. Her body suffered cold, sickness, and pain. Eventually, she died. However, her father, the King, always knew that the Princess' soul would return, perhaps in another body, in another place, at another time. And he would wait for her, until he drew his last breath, until the world stopped turning...”

Spain, 1944. The Spanish civil war had ended but a hostile environment was still felt, where rebels fought against a fascist regime that was trying to smother them. We see a dying girl, with a soft melody serving as background music. The monologue depicted above marks the beginning of the Mexican director, Guillermo del Toro – El Laberinto del Fauno.

Beautiful and violent. Magical, sad and tragic. Fantastic. These are just some of the adjectives that can describe Del Toro’s 2006 work, where fantasy and reality are mixed to create an extraordinary movie. The innocence/brutality duality is extremely well exposed through detailed characters: Ofelia (Ivana Baquero) is truly fascinated by fairy tales and devours every book about it. It is through fairy tales that she can manage to escape the daily horrors she has to face, and by entering that imaginary world she finds her haven. However, when she moves to her stepfather’s, Captain Vidal (Sergi López) place, things take a sudden turn for the worst, and her life becomes more turbulent and harsh. Vidal is a totalitarian, sadistic and aggressive army officer that fights rebels in a daily basis in order to grant a full and successful implementation of the fascist regime. The evil nature of Vidal serves as a great contrast to the innocence that Ofelia is meant to represent.

There are two technical factors that are better used in order to create and magnify the gap between reality and fantasy, enhancing it, and supporting the director’s vision: The cinematography and the score. In first place, we have a sublime cinematography that adequately portrays the situations presented on the film – Reality is strongly shot by a raw and darker photography, where dark colors have a relevant impact, representing the hard reality Ofelia has to put up with throughout the whole movie. On the other hand, in those scenes where fantasy is the main element, a set of warmer colors is used in order to transmit the notion of security and comfort that Ofelia looks for in that world. In second place, the score exudes the mysticism and the mystery that lies within the narrative’s development. Its pieces’ intensity rises the longer we delve into the film, reaching its peak by the time the climax comes, and ends in a rather low-key, almost pessimistic note.  


Credit must be given where it is due, and in this case, both the make-up and art direction departments deserve it. The level of detail that was necessary in order to fully characterize the faun and the pale man is masterful, and stands as a true testimony to the artists’ geniality. The sets are also beautifully tailored, and they serve as a medium to enhance the fascination for the fantastic and for the imaginary.

As for the cast? They were all terrific. Sergi López becomes one of the most fearful and menacing villains of recent years, without any trace of humanity or empathy. Maribel Verdú as the Captain’s servant (and I won’t say anything else because I don’t want to spoil things) injects the strength and fierceness to her character that when combined with her character’s maternal and sentimental side, translates into a very fleshed performance. Ivana Baquero, probably the film’s revelation, is the one that has to carry out the hardest taks of them all. She basically has to carry the weight of the movie on her own shoulder, and she does it in a rather professional way.

Is it my all time favorite fantasy movie? I can safely say that it is. Watch it!

Fun Trivia: The film got a 22 minute standing ovation at the Cannes Film Festival.


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5 comentários:

  1. Um filme tão fantástico quanto sério, mas onde a fantasia acaba por levar a melhor. Este filme é belo, bastante arrojado a nível estético (fotografia, cenários, guarda-roupa e caracterização), tem uma banda sonora encantadora... Uma fábula sedutora sobre o poder da inocência. Para miúdos e graúdos.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  2. Sem dúvida um grande filme e, na fantasia, seguramente também um dos meus preferidos. Talvez só não é O preferido, porque existe o Senhor dos Anéis.

    Este é belíssimo em tudo, desde a banda sonora (linda, linda!) até ao argumento, passando por uma fotografia, tal como dizes, muito cuidada.
    Gosto muito, e foi a partir deste que passei a seguir de perto o Del Toro :)

    abraço

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  3. Roberto - E quem fala assim não é gago! :P eheh

    Jorge - Tenho que dar uma outra chance ao Senhor dos Anéis. Talvez descubra algo que me tenha falhado na primeira vez que vi a trilogia e que me torne fã!

    Já viste o El Espinazo del Diablo? :)

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  4. Já vi, e é um óptimo filme, outro do Del Toro que comprova o seu talento. Assim como o El Orfanato, embora aí seja só produtor, acho que se nota a sua influência. Aguardemos pelos próximos projectos, adivinham-se alguns, para muito em breve, bem interessantes :)

    abraço

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  5. Great! Acho que o Espinazo e o Laberinto complementam-se perfeitamente. São quase irmãos, vá. :P Também gosto muito do Orfanato - Mantém aquele ambiente misterioso mas possui grande tacto na maneira de como a história é contada, sem cair no melodrama.

    Agora é esperar pelas próximas obras do senhor Del Toro. :)

    Abraço

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