quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

E o #1 é... Taxi Driver (1976, Scorsese)


“São dois pequenos minutos, belíssimos e hipnóticos. Uma cortina de fumo alaranjada camufla a noctura divagação nova-iorquina, sob um som pesado e autoritário, até estarmos olhos nos olhos com um apático Travis Bickle. Escorrer uma suave música jazzy e nightclubish, que começa por se fazer acompanhar por um vidro molhado, e já nos sentimos a andar num veículo melancólico, a uma velocidade simplesmente necessária, deambulante. Já o ambiente soturno está criado quando conseguimos, finalmente, ver a paisagem que discorre para lá dos vidros do táxi, que circula pelas eternas estradas da cidade que nunca dorme - lá fora, tudo é pastoso, sonolento e misterioso, pela beleza das imensas luzes e cores que se escondem no negro da madrugada. E é isto o filme. Uma desgraçada, deprimida e psicoticamente reprimida caminhada pela procura de uma identidade pessoal.”

DiogoF.

Eis que chegamos ao meu filme preferido. Taxi Driver, a obra-prima de um dos grandes cineastas de todos os tempos. Agradeço ao Diogo pela permissão que me deu para utilizar as suas palavras para o texto introdutório. Creio que captam perfeitamente o tom do próprio filme, e eu não conseguiria arranjar melhores palavras para descrever aquela que é uma das minhas cenas preferidas.


God’s lonely man.

Nova Iorque pelos olhos de Martin Scorsese. Uma cidade que tão bem conhece. Scorsese expõe, aqui, a decadência urbana que assola as ruas da Grande Maçã. Someday a real rain will come and wash all this scum off the streets. Enojado pelo moralismo contaminado ao qual é obrigado a assistir todas as noites, enquanto conduz o seu taxi pelas feias ruas de Nova Iorque, Travis Bickle (Robert De Niro) anseia por uma mudança radical no ambiente que o rodeia. Deposita alguma fé no candidato a mayor Charles Palantine, chegando-lhe a transmitir o seu parecer sobre a cidade numa das suas viagens. Travis Bickle. God’s lonely man. É o encontro com uma jovem prostituta (Jodie Foster) que em última instância o faz aperceber o que efectivamente tem de fazer.


My life has taken another turn again. The days can go on with regularity over and over, one day indistinguishable from the next. A long continuous chain. Then suddenly, there is a change.

A mestria de Martin Scorsese é simplesmente impecável. Injectando um profundo nível de detalhe, conhecendo intrinsecamente a solidão e a alienação que Travis sente, Scorsese obtém aqui um verdadeiro diamante. O poderoso argumento assinado por Paul Schrader é subtilmente explosivo. Todo o processo de transformação de Travis Bickle é esculturalmente delineado, tornando Taxi Driver numa verdadeira viagem às profundezas da instabilidade mental humana.

O lendário compositor Bernard Herrmann deu-nos, também, uma banda sonora magnifíca. A suavidade da mesma é um excelente contra-ponto à brutalidade do ambiente no qual Travis se submerge.


Jodie Foster, com apenas 12 anos, demonstra desde cedo o enorme talento nela imbuído. Apesar de estar a interpretar o papel de uma prostituta, a sua naturalidade diante as cameras é impressionante. Mas a verdadeira estrela do filme é o senhor De Niro. Icónico, lendário, magistral, tremendo, fenomenal. Não chegam todos os adjectivos laudatórios do mundo para descrever a verdadeira encarnação de Travis por parte de Robert De Niro. Cada cena é interpretada com tamanho realismo, enorme técnica, com um enorme conhecimento daquilo que a personagem tem de sentir e pensar. O papel assenta De Niro que nem uma luva, e dificilmente conseguiria imaginar outro actor no papel do taxista mais icónico da história do cinema.


Brilhante.

13 comentários:

  1. E termina em beleza a tua lista! Um grande filme, o meu favorito de Scorcese. É a música hipnotizante, o realismo incómodo, é ver T. Bickle a mergulhar numa espiral de loucura e decadência, tudo em sintonia.
    Aquando das filmagens Foster não tinha 14 mas sim 12 anos ! Impressionante o à vontade dela naquele papel.
    Já agora acabei por acertar 2 do top 10 nas minhas previsões ;)

    Cumps

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  2. Obrigado Dezito! E sim, o barco imaginário é teu! ahaha :D

    12 anos hm? Ainda mais impressionante :D

    Obrigado pelo comentário, mais uma vez! :)

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  3. Acima de tudo percebo a escolha e a preferência por este Taxi Driver. É um filme particular, único na forma como capta a cidade, o estado de espírito de um povo, as consequências desse mesmo...tudo muito bem retratado dentro e fora do táxi. O que mais destaco talvez seja a fotografia, o argumento e a grande realização.

    De Niro também está muito bem, mas para mim está bem melhor no Raging Bull, mas o homem só produz performances boas por isso nada a dizer.

    No entanto não posso dizer que me identifico, o filme a quando o vi e apesar de tudo o que disse, não me fascinou, não me transcendeu, porventura precisarei de o rever. Já é altura.

    Só por curiosidade não é o meu preferido de Scorcese, aí está o Gangs of New York :).

    abraço

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  4. Jorge - Por acaso adorei este filme no momento em que o vi pela primeira vez. Contudo, a colocação dele no topo da minha lista deve-se em muito ao número de vezes que o revi. Espero que o desfrutes ainda mais com uma revisita. :D

    Também sou fã do Gangs of New York. O Daniel Day-Lewis aí está bombástico!

    Thanks pelo comment. Abraço!

    Gonga - Obrigado :D

    Ricardo - AH YEAH! ahahah :D

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  5. Já passas-te as 10 000 visitas, agora vou ter que ligar-te ao Facebook :D

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  6. Antes de mais, muito me honra, como te disse, a tua escolha da citação do meu texto.

    De resto, deixa-me dizer-te que não terias necessitado do texto para escrever muito bem sobre o filme. Não é o meu favorito (se é que consigo eleger um) mas duvido que esteja abaixo de um top 5. É absolutamente genial, é belíssimo e profundo, visual e narrativamente. Apesar de ser um grande admirador de Scorsese e de toda a sua obra, este é mesmo o meu favorito.

    Abraço !

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  7. Diogo - Faço minhas as tuas palavras. E percebo bem o "se é que consigo eleger um". Apesar de ter vindo a divulgar a minha lista de preferidos ao longo destes últimos tempos, a ordem na qual os filmes estão apresentados muda constantemente ;P Abraço.

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  8. Eheh, compreendo. Depende muito da atmosfera, do nosso "mood", do dia, da circunstância, enfim. É assim mesmo, faz parte e assim é que é bonito.

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