Com o Halloween à porta, época essa propensa a ambientes mistícos onde supostamente paira no ar um clima de terror impelido por temas do oculto, que melhor altura para falar daquele que é considerado o filme mais aterrador de sempre do que esta? Falo do The Exorcist.
Na altura do seu lançamento, 1973, este filme gerou imensa controvérsia. No Reino Unido, algumas localidades baniram a exibição do filme (o que por sua vez gerou um fenómeno bastante peculiar: Eram organizadas excursões às cidades mais próximas que exibiam o filme, apenas para que as pessoas o pudessem ver), um espectador processou a Warner Brothers por ter desmaiado durante o filme e ter, consequentemente, partido o maxilar, e a assistência médica era frequente nas diversas exibições do filme para tratarem dos numerosos casos de desmaios e ataques de histeria que o mesmo causava nas suas audiências. No meio disto tudo, as revistas Entertainment Weekly e Maxim elegeram o filme de William Friedkin como o mais assustador de todos os tempos, e foi o primeiro filme de Terror a cair nas boas graças da Academia, tendo arrecadado um total de 10 nomeações para os Oscares, incluindo Melhor Filme.
Creio que muitos de vós já estejam familiarizados com a história, mas por motivos de contextualização, aqui vai: Regan (Linda Blair), 12 anos, altera o seu comportamento de uma forma extremamente radical. Chris (Ellen Burstyn), preocupada com o estado de saúde mental da filha, submete-a a uma bateria de testes para descobrir o que está por detrás da súbita mudança de comportamento da filha. Sem aval, e sucumbindo ao desespero, Chris procura ajuda junto do Padre Karras (Jason Miller). A ideia de que Regan possa estar possuída por um espírito maligno vai ganhando substância, levando Karras a pedir ajuda ao Padre Merrin (Max Von Sydow) para a realização de um exorcismo.
Antes de tudo, é importante perceber que The Exorcist foi produzido numa época em que Hollywood, no que toca ao género Terror, estava on fire. Os filmes começavam a ser cada vez mais tensos, mais provocantes, mais excruciantes. Mas afinal o que distingue este filme de todos os outros, ao ponto de ser considerado o mais assustador? Bem, na minha opinião, é um filme que joga muito com as crenças dos seus espectadores, garantindo-lhe um terror psicológico avassalador. Não é de admirar que a Igreja não tenha visto The Exorcist com bons olhos, afirmando que é uma obra que apela ao satanismo e à adoração do oculto. Contudo, não partilho a mesma opinião. Até o considero como um filme religiosamente optimista: Dadas as circunstâncias em que o Padre Karras se encontra, e no meio daquele verdadeiro Inferno, ele consegue encontrar na sua fé a motivação e as forças necessárias para triunfar naquela luta contra o Mal.
Choque. Muitas das imagens e cenas utilizadas no filme têm em vista maximizar o impacto que o filme pudesse vir a ter nas pessoas, e sendo este um filme de terror, o caminho mais natural para obter esse impacto é através do choque. É nesse aspecto em que The Exorcist surge como sendo um filme verdadeiramente inovador (relembrem-se que estamos no início da década de 70) e icónico – aparentemente a cena que envolve a punção da carótida de Regan causou náuseas a muito boa gente que viu o filme nos cinemas, e as ínfames cenas da spiderwalk, do crucifixo, e do pedido de ajuda da Regan certamente ficaram na mente de um número ainda maior de pessoas.
Dada a natureza bastante delicada do clássico de 1973, o filme nunca cai em clichês, tratando sempre os seus temas com a dignidade e o respeito que merecem. As interpretações fantásticas de Linda Blair, Ellen Burstyn e Jason Miller valeram-lhes nomeações para as suas categorias respectivas nos Oscares.
Vi-o pela primeira vez quando tinha 9 anos e devo dizer que fiquei traumatizado, erm, ao ponto de ter que dormir com a luz acessa durante uma semana. Ontem revi-o, passados 12 anos, e continuo a achá-lo extremamente desconfortável e perturbador (mas sim, já durmo com as luzes fechadas ahaha). Os efeitos já estão um bocado datados, o que é natural, mas o poder da sugestão continua presente e as ideias nele imbutidas mantêm-se vigorosas. Agora, com 21 anos, não diria que o The Exorcist é o filme mais assustador de sempre, mas que é um marco na história do cinema e uma excelente sugestão para o Halloween? Podem crer.
Fun trivia
Ajustado à inflacção, este é o filme para maiores de 18 com o maior resultado de bilheteiras de sempre.
Ajustado à inflacção, este é o filme mais bem sucedido nas bilheteiras da Warner Brothers.
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What better time to talk about the film that it is considered to be the most terrifying of all time than Halloween – a season marked by a mysterious atmosphere where horror takes the spotlight once a year? I’m talking about The Exorcist.
At the time of its release, 1973, this movie generated a lot of controversy. In the UK, some councils banned its screenings (which lead to a rather curious phenomenon: Bus trips were organized to the nearest towns that were screening The Exorcist, just so people could watch it), a filmgoer sued Warner Brothers because he fainted and consequently broke his jaw, and medical assistance was frequent on showings to treat fainting and hysteria cases. Entertainment Weekly and Maxim magazines voted it as the scariest movie of all time, and this was the first horror movie to fall on the Academy's good graces, scooping a total of 10 nominations for the Oscars, including Best Picture.
First of all, it is important to realize that The Exorcist was produced in a time in which Hollywood, when it comes to the horror genre, was simply on fire. Movies started to become tenser, more provocative and more unapologetic. But just what distinguishes this movie from all the others, to the point of being considered as the most terrifying? Well, in my opinion, it is a movie that plays with the viewers’ beliefs, which grants it a towering psychological horror nature. It’s not really surprising that the Church didn’t fall over for this movie, stating that it appeals to satanic themes and to the worship of the occult. I rather see The Exorcist as a religiously optimistic movie: Given the circumstances Father Karras sees himself into, and in the middle of Hell, he is able to gather, in his faith, the motivation and the necessary strength to come out as victorious in a battle against Evil.
Shock. Many of the imagery and scenes used in Friedkin’s film have their sights on maximizing the impact that it could have on people, and being a horror movie, the more natural way to achieve that would be through shock. It is in that element that The Exorcist can be regarded as a truly innovative (bear in mind that we are in the beginning of the 70s) and iconic – apparently, the scene revolving around Regan’s puncture gave people nausea, and the infamous spiderwalk, crucifix and Regan’s cry for help scenes certainly stayed on lots of people’s minds.
Given the delicate nature of the 1973’s classic, the movie never falls on stereotypes and cliches, giving its themes the dignity and respect they deserve. The fantastic performances by Linda Blair, Ellen Burstyn and Jason Miller translated into Oscar nominations in their respective categories.
I saw it for the first time when I was 9 years old, and I must say it traumatized me, erm, to the point that I could only sleep with the lights on for a whole week. Yesterday, after 12 years, I rewatched it for the first time and I still find it to be extremely unsettling and disturbing (but now I can sleep with the lights off. Ahahaha). Obviously, the effects appear to be a little bit dated, but the power of suggestion is still there and the ideas embedded in it are still vigorous. Now, I’m 21 years old and I wouldn’t say The Exorcist is the scariest movie ever. But is it a landmark on cinema history and an excellent suggestion for Halloween? You bet.
Fun trivia
If adjusted for inflation, this would be the top grossing R-rated film of all time.
This is Warner Brothers' highest grossing film of all time when adjusted for inflation.
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Já o vi há muitos anos e não gostei especialmente. Ri-me bastante, recordo-me ;)
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Por acaso também me ri em algumas cenas, muito derivado a ter visto primeiro a versão adulterada (com o mesmo actor inclusive) em Scary Movie 2.
ResponderEliminarThe Exorcist, contudo, é uma excelente escolha no seu género, sendo mesmo, como dizes, original e muito provocador. Psicologicamente aterrorizante e com uma carga de tensão constante. Maravilhoso nesse aspecto.
De resto, também não o acho o melhor filme de terror de todos os tempos, nem um grande grande filme. É uma grande opção por estas alturas, isso sim, e sem dúvida alguma. Acho bem mais aterrorizante, a título de exemplo, os The Ring.
abraço
Roberto - Ahaha. Consigo ver porque é que algumas pessoas acham o filme particularmente cómico. Heck, Eu ri-me com a cena do vómito-projectil! ahahah
ResponderEliminarCumps.
Jorge - O The Ring nunca foi algo que me puxasse muito. Também, esse estilo de filme passa-me completamente ao lado. Não sei dizer qual é o filme mais aterrorizante que já vi. The Shining, probably.
Abraço
Gosto do filme, adaptando-o ao contexto em que surge, como bem descreveste. Aliás, gostei muito de todo o texto.
ResponderEliminarDiogoF - Obrigado pelo comentário :) Abraço
ResponderEliminarQue engraçado, vi esse filme à umas horas atrás! Eu vejo sempre imensos filmes de terror, mas na semana de Halloween tendo a ver muitos mais, e este sendo o clássico que é, tive que o rever. Especialmente porque não o via à 10 anos! Na altura assustou-me e bem(tinha 8 anos, é compreensível), mas agora concordo um bocado com o Roberto quando ele diz que se riu com algumas cenas. Também me ri. Mesmo assim, continua a ser aquela lenda de filme.
ResponderEliminarGostei bastante de ler o teu texto!
Sarah
Sarah - Acho que, actualmente, o impacto que o filme tem no espectador está muito dependente da idade do mesmo! À medida que uma pessoa vai crescendo e, de certa forma, perdendo alguma sensibilidade perante aquilo que vê num ecrã, o Exorcista acaba por surgir praticamente como uma comédia em vez de um filme de terror :p De qualquer forma, adorava tê-lo visto nos anos 70, quando o género não estava tão... banalizado, talvez, como está nestes dias.
ResponderEliminarGlad you liked the text! :)