Uma família decide ir passar duas
semanas na sua casa de férias. Paz e descanso na idílica localidade. A caminho
da sua casa, passam pelos seus vizinhos. Apercebem-se de duas pessoas que não
tinham conhecido anteriormente, e o clima está pesado. O pacífico ambiente que
conhecem não reflecte em nada o que lhes espera.
“São 4 ovos se faz favor”. Um
ordinário pedido feito por um jovem bem-educado e bem apresentado. Um pedido
que despoleta o inferno em que a família se irá encontrar. Algo tão banal como
ovos. Dois jovens fincam o pé: Os ovos partiram-se e querem mais. Intitulam-se
ao direito de terem mais ovos só porque sim. Porque não haveriam de o fazer?
Porque não ir mais longe e tomar a família como refém para a participação nos
seus dementes jogos? Para os dois jovens isso faz sentido. O jogo é
relativamente simples: A família tem que sobreviver até a manhã do dia
seguinte.
Funny Games é um filme extremamente pesado, denso. Impiedosamente
violento, também. O propósito de colocar o espectador frente a frente com uma
tão fria demonstração de violência, com o intuito de fazer com que este se
questione sobre o que está a ver é, em parte, conseguido pela mão de Haneke. É
um filme violento, mas não demonstra sê-lo directamente no ecrã. Incita à
reflexão, mas não é propriamente subtil nesse aspecto. É incisivo e
extremamente manipulador, e neste sentido existe uma particular cena que
representa a epítome do poder manipulativo exercido por Haneke.
Case in Point: A cena do comando. É
provavelmente a cena mais notória do filme, e é também uma cena que revela um
certo grau de cinismo. Francamente contra a violência nos vários meios, Michael
Haneke rebobina determinada instância (curiosamente, o único acto explícito de
violência do filme), apenas para apontar o dedo ao espectador por ter “celebrado”
esse momento em que a vítima decide actuar em prol da sua própria
sobrevivência. Contudo, nos momentos seguintes, o realizador continua a
alimentar o espírito que tanto critica.
Para mais eficazmente passar a
mensagem do seu impactante filme, Michael Haneke optou por fazer um remake do seu próprio filme. Muda a
língua (o alemão passa a inglês) e o elenco (Tim Roth, Naomi Watts, Michael
Pitt e Brady Corbet substituem Ulrich Muhe, Susanne Lothar, Arno Frisch e Frank
Giering, respectivamente), e tudo o resto mantém-se inalterado. Não sei até que
ponto é que um remake terá sido a
melhor forma de difundir a mensagem, dado que o filme original é substancial o
suficiente para garantir que a sua mensagem ecoe ao longo dos anos. No entanto,
e a fraca performance do remake no box-office norte-americano acaba por “dar
a vitória” a Haneke. A título de curiosidade, o realizador terá dito a um dos
produtores que se o filme fosse um sucesso, então seria porque a audiência não
teria percebido o significado por detrás do mesmo.
Independentemente da controvérsia
que poderá ter suscitado aquando do seu lançamento,
Funny Games não deixa de ser um ponto de interesse no cinema
europeu dos anos 90. Quanto ao
remake – e por ser cópia exacta do filme
original – não perderia tempo em vê-lo a não ser que (1) não tenham visto o
original; (2) sejam ávidos fãs do realizador e queiram ver toda a sua obra; ou
(3) tenham gostado do original e queiram revisitá-lo com uma “cara lavada”.