“You’ve got
a nasty reputation Mr. Gittes. I like that.”
Noah Cross
Um homem soluça ao descobrir que
a sua mulher o engana. É Jake Gittes (Jack Nicholson) que lhe mostra as fotos
após ter sido contratado para levantar as suspeitas que esse homem tinha. Private Investigator. A intriga está tão
presente na vida de Gittes que o seu passado assola constantemente a sua mente.
Chinatown. Algo correra mal.
“Mrs. Mulwray” contacta Gittes
para resolver aquele que seria apenas mais um caso de traição matrimonial. Um
misterioso caso que depressa se torna mais que uma simples e típica cena de
adultério. Los Angeles, uma cidade marcada por uma severa seca. A construção de
barragens é planeada para catapultar e impulsionar a cidade dos anjos, ainda
que isso ocorra a custo do desespero de terceiros. Ainda assim, o ciclo de
escoamento das águas na metrópole californiana assume padrões algo estranhos.
Não é sistemática.
Evelyn Mulwray. Femme fatale. A entrada de Evelyn na
vida de Jake acontece de forma abrupta. Primeiro com o intuito de tirar a pratos
limpos tudo o que vem nos jornais sobre o caso do seu marido. Mas é uma relação
que se mantém, em grande parte, por insistência de Gittes. A sua longa
experiência no sub-mundo da investigação privada diz-lhe o contrário daquilo
que lhe é dito. Chinatown. Um lugar que pesa.
Seja em momentos mais intimistas
onde a frágil natureza de Evelyn Mulwray resvalece, seja em momentos amplamente
marcados com uma crescente aura misteriosamente sinistra que paira nas imagens
que compõem o filme, a obra de Roman Polanski é acima de tudo, um fulcral
exercício na escrita de argumentos. E isso é particularmente visível no
portentoso clímax do filme. E que momento esse! A tenebrosa sirene. A lúgubre
noite. A impunidade do mau carácter a reinar por todo o caos. Isto é Chinatown,
em todo o seu esplendor.
“Forget it Jake. It’s Chinatown”
E enquanto uns dizem para
esquecer e pôr tudo atrás das costas, prefiro não o fazer. Prefiro ter todo o
brilhantismo de Chinatown bem
presente na mente. Prefiro lembrar-me da assombrosa interpretação de John
Huston que, com uma presença muito limitada, consegue roubar o espectáculo.
Prefiro lembrar-me da icónica revelação – uma autêntica bomba atómica. Prefiro
lembrar-me da suave maneira de como o mistério se desenrola. Prefiro lembrar-me
do imponente final. Prefiro lembrar-me de Chinatown.