Creio já ter mencionado por estas
bandas que não sou propriamente o maior fã de Woody Allen. Quando Blue Jasmine estreou, foram muitos
aqueles que elevaram a mais recente obra do lendário realizador ao mesmo patamar
de outros dos seus mais-que-consagrados trabalhos. Gosto apenas de um ou outro
filme de Allen (Match Point e Vicky Christina Barcelona vêm à cabeça
de repente... assim como o Crimes and
Misdemeanors. Não poderei dizer a mesma coisa sobre outros vários). Posso,
no entanto, juntar Blue Jasmine ao
reduzido leque de filmes que gosto do realizador. O que é bom.
Repetindo o que já se disse, este
é o show da Cate Blanchett. Incapaz
de fazer uma má interpretação, a Jasmine que retratou figurará seguramente como
um dos mais sólidos desempenhos do seu impecável curriculum. Jasmine é uma
personagem detestável, acomodada àquilo que de melhor o dinheiro consegue
comprar. Está imersa no seu artificial e elitista círculo social e isso
representa o melhor que a vida tem para oferecer. Tudo o que estiver abaixo
disso não é digno de ser agraciado por Jasmine. Até que a sua vida dá uma
tremenda reviravolta. Uma radical mudança que pouco serve para (re)ajustar a
perspetiva que tem sobre a vida. É aqui que se destaca o exímio trabalho de
Blanchett. A detestabilidade de Jasmine mantém-se, sim, mas Blanchett consegue incutir-lhe
empatia e uma dimensão humana que passa para além do papel. Bravo.
Acho que daquilo que já vi de Allen, este filme é o que assume o tom mais sombrio. Blue Jasmine divide-se entre o presente e o passado, por flashbacks que são despoletados de forma
circunstancial. É o passado que mais real parece. Representa os momentos que
(ainda) pautam a vida de Jasmine e o que lhe é real. A sua nova dimensão é
apenas um pesadelo do qual tem que acordar o mais rapidamente possível. Surge uma
oportunidade de voltar a reviver a realidade que é sinónima de Jasmine mas depressa tudo colapsa novamente. E depressa também se esvai toda a sua personalidade...
Lá terei que dar mais umas chances ao Allen.
É uma tour de force da Cate Blanchett, sem dúvida, mas não consigo elevar o filme ao nível dos melhores de Woody Allen. Ainda há tão poucos anos nos trouxe esse fabuloso filme que é MIDNIGHT IN PARIS, superior e a léguas mais interessante do que este, na minha opinião. À parte as interpretações da dupla de atrizes principais, não gostei especialmente. A construção do argumento, então, é penosa. Também não gostei especialmente do VICKY CRISTINA BARCELONA. MATCH POINT foi uma agradável surpresa. Mas também tenho a dizer que Allen não é, quanto a mim, um realizador fora de série, pelo menos como é enquanto argumentista. Nisso estou de acordo contigo, também não sou o fã mais acérrimo.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
http://cineroad.blogspot.pt/
Tenho muita curiosidade quanto a este filme, como referes que é mais sombrio que o habitual, fico a pensar em algo mais à imagem de Interiors, que por acaso até é o meu preferido do Woody Allen.
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